top of page

Juventude rebelde : Gangues adolescentes no Japão

Olhando revistas ou blogs de moda japonesas vemos um festival de tons pastéis, saias rodadas, babados, estampas florais e sapatos tipo boneca. A moda estilo lolita se popularizou e hoje chega a ser difícil imaginar que há décadas atrás as meninas japonesas queriam ser tudo menos adoráveis. Hoje vamos explorar o conceito das Sukeban e como elas levaram as autoridades japonesas à loucura nas décadas de 60 e 70. Suke significa "fêmea" e "ban" significa chefe; Esse foi o termo pelo qual muitas gangues de adolescentes compostas apenas por mulheres resolveram se intitular.

O movimento não apareceu de repente; Em meados dos anos 60 ele surgiu inspirado nas diversas gangues de bad boys com quem as meninas conviviam. Os colegas de classe homens que desejavam se juntar à Yakuza começaram a formar quadrilhas locais. Esses grupos masculinos eram chamados de bancho e eles tinham poder e status ... era só uma questão de tempo para que as colegas do sexo oposto seguissem seus passos em busca de mais ação.

A gangue de Kanto foi a maior de todas, chegando a contar com 20000 integrantes. A organização ganhou dimensão e chegou a ter até presidente, conselheiras e contadoras.

Várias formas de violência física faziam parte do dia a dia da vida de muitas integrantes, não apenas por parte das facções rivais como também das próprias colegas de gangue. Quebrar as regras resultava em linchamento. O linchamento envolvia vários níveis de punição, começando pelos leves, como apagar cigarro aceso na pele. Se fosse feito o mesmo, mas nas partes íntimas do corpo, o índice subia para médio. As razões para os castigos podiam ser numerosas e variavam conforme a gangue em questão. Incluíam desde demonstrações de desrespeito às veteranas ou manter contato verbal com inimigos até ser flagrada usando drogas, embora cheirar tíner para um barato rápido e acessível fosse comum entre garotas e garotos maus de toda parte.

As adolescentes andavam em bando, se reunindo para furtar lojas, arranjar brigas de rua com gangues rivais, bater carteiras ou simplesmente causar alvoroço e tocar medo nas pessoas que passavam. Mas então por que elas não eram presas ? Bem, organizações criminosas sempre existiram no Japão; Chefões da Yakuza podem ter escritórios próprios e até dirigir filmes. As leis japonesas não permitem que menores de idade fiquem retidos por muito tempo. O máximo que os policiais podiam fazer era dar um sermão e esperar que surtisse algum efeito.

Não era difícil identificar uma sukeban : Cabelos ondulados, muitas vezes com permanente, bordados nas mangas dos uniformes (uma forma de desafiar o sistema escolar) , saias longas até os pés e, boa parte das vezes, cara de poucos amigos.

O porte de armas brancas como espadas de bambu,correntes, bastões de baseball,facas ou lâminas de barbear também era comum. Mesmo envolvidas em pequenos crimes as Sukeban estavam convencidas de que viviam de acordo com os mais altos padrões morais. O pudor demonstrado pelo uso de saias longas pode ser visto como uma reação à permissividade da revolução sexual dos anos 60.

A natureza emocional dos relacionamentos além de ciúmes, fofocas e paixões arrebatadores provocavam verdadeiros dramalhões mexicanos.

Hoje, há cada vez menos jovens com esse estilo. O mito sukeban ,porém, se mantém vivo na cultura pop. Um exemplo é o mangá Sukeban Deka, que conta a história de uma agente policial teen disfarçada. Com o uniforme de marinheiro, ela usa ioiôs e tsurus de papel afiados para combater o crime.A obra foi adaptada para o formato de anime e também live action.

O Japão é e sempre foi um país cheio de regras e normas sociais, juntando isso à grande competitividade presente sistema educacional o resultado são jovens reprimidos e estressados ao ponto de explodirem e quererem se rebelar.

Sukeban e bancho não foram as únicas tribos urbanas que causaram problemas, na verdade eles serviram de inspiração para outros grupos como os yanki e bosozoku, um pouco diferentes mas não menos perigosos.

Se andando a pé esses adolescentes já causavam problemas imagine então estando sobre rodas ... sim, agora os jovens estavam em busca de novas emoções que somente motos turbinadas poderiam proporcionar. A polícia japonesa contabilizou aproximadamente 817 grupos com cerca de 26 mil garotos e garotas envolvidos. Diariamente os jornais relatavam conflitos entre facções, que culminou em 1978 quando o governo proibiu as pessoas de andarem de moto em grupo. A lei porém não fez as meninas desanimarem, muito pelo contrário, o número de gangues só aumentava. As marcas mais populares eram Honda e Kawasaki, na maioria das vezes cobertas por adesivos ou com pinturas customizadas.

Assim como as sukeban as meninas yanki estavam envolvidas com drogas e pequenos crimes. Os laços de irmandade eram fortes e tinham como base o método kohai-senpai (discípulo-mestre) , enraizado em toda sociedade japonesa. Quando não estavam rodando com as motos personalizadas , que emitiam barulhentas buzinas, praticavam o que os antropólogos chamam de "ritos de passagem" . Por exemplo, quando as meninas atingiam 18 anos aconteciam cerimônias festivas de graduação, regadas de lágrimas. As quadrilhas ofereciam também suporte emocional, exercendo papel de segunda família.

Boa parte das vezes as garotas eram vistas usando macacões largos chamados "tokko fuku". As vestimentas eram adornadas por caligrafias elaboradas, costuradas à mão. Enfatizavam a filiação ou mostravam slogans agressivos como "Viva rápido, morra jovem". Por baixo da roupa, no lugar do sutiã, usavam faixas de tecido branco fortemente amarradas, conhecidas como "sarashi". Uma atadura, normalmente branca, era dobrada e amarrada na cabeça, o resultado era um estilo exclusivamente japonês, uma mistura de sushiman com mecânico patriota. Máscaras de gaze também eram comumente usadas, que além de dar um visual agressivo também ajudavam à esconder o rosto na hora de praticar um delito.

Boa parte das integrantes tinham uma extensa ficha criminal, novas jovens não eram incorporadas caso tivessem medo da prisão. Infelizmente essa sede por aventura resultava em muitas garotas entrando em situações perigosas e muitas vezes sem volta. Casos de motoqueiras sendo sequestradas pela yakuza ou pela máfia chinesa e forçadas à se prostituir eram comuns, isso quando não morriam em acidentas automobilísticos ou em brigas. Hoje em dia ainda existem pessoas que se identificam como sendo seguidores do estilo yanki ou bosozoku, mas diferente dos colegas dos anos 80 e 90 boa parte deles perdeu a agressividade e se limita apenas a vestir as roupas características, customizar seu veículo e se reunir com amigos para beber.

E aí, gostou das motos ou achou elas um pouco exageradas ?

Destaque
Tags
bottom of page